Há
exatamente uma semana, enquanto passava um tempo no Largo São
Sebastião, tive o prazer de conhecer um senhor que se autodenominou Fernando do Recife.
Um
artista de rua, ator, professor, revolucionário e, acima de tudo, um
agricultor que semeia ideias.
Conversamos
por pouco mais de meia hora e foi o suficiente para que eu aprendesse
grandes lições e tivesse excelentes reflexões.
Hoje
compartilharei apenas uma: por mais empatia e compaixão que eu
tenha, bem como por mais esforço que eu faça, eu nunca saberei o
que é ser negro e sofrer preconceito por isso.
O
racismo é algo que infelizmente ainda existe – e como existe!! -
na nossa sociedade e em grande parte do mundo.
O
negro sofre racismo de tantas formas ditas “sutis” que pessoas
como eu (dito branco/pardo, de pele clara) nunca saberão o que é de
fato o racismo.
Com
muita empatia e esforço, podemos ter uma ideia, mas nunca saberemos
de fato o que é isso.
Mas
o pouco que sei (que aprendi ao conversar com pessoas negras
incríveis como o Fernando), me dá ferramentas suficientes para
falar um pouco sobre o assunto.
Como
todo preconceito, o racismo também tem origem no MEDO do diferente.
Naturalmente,
nós, humanos, sentimos insegurança quando lidamos com algo novo,
desconhecido. O preconceito surge justamente quando essa insegurança
torna-se medo, pavor.
Nesse
momento, passamos a estereotipar alguém com base em uma única
característica (em regra, física). Assim, o ser humano com a cor de
pele dita negra passa a ser definido como negro, independentemente
das mais de 1 milhão de características que possua. Da mesma forma,
o ser humano homossexual passa ser taxado de gay e apenas isso. E o
mesmo pode ser dito sobre loiras, mendigos, gordos, pivetes,
tatuados, entre outros seres humanos que, ao serem “definidos”
(ou enquadrados) por pessoas com preconceito, são limitados a uma
única característica.
Da
mesma forma que surge, o preconceito acaba quando o inverso acontece:
quando adquire-se consciência.
Quando
passamos a ter consciência de que o outro (independentemente da
sua aparência externa ou de sua forma de pensar) é um ser humano
extremamente complexo e incrível como nós, os preconceitos caem por
terra.
Óbvio
que isso não é um processo tão fácil quanto descrito acima. É
algo gradual que vem com muito esforço.
Eu
mesmo, por muito tempo, tive medo de homens homossexuais. Isso
aconteceu porque cresci ouvindo que deveria ficar longe de gays, pois
poderia ser estuprado por eles. Além disso, quando adolescente, por
duas ocasiões, fui alvo de assédio por parte de homens. Felizmente,
nada de grave ocorreu.
Na primeira ocasião, quando eu tinha entre 13
e 14 anos, um senhor falou que eu era bonito e pediu para eu dar um
beijo nele. Isso ocorreu em um ônibus. Saí de perto dele e desci do
ônibus assim que me pareceu seguro.
A segunda situação ocorreu no
mesmo ano, dessa vez no banheiro do terminal de ônibus. Entrei para
lavar a minha mão. Enquanto lavava, vi de canto de olho um movimento
vindo da área onde ficavam os mictórios. Quando olho, um outro
senhor estava virado para a minha direção balançando o pênis e
sorrindo para mim. Saí imediatamente do local.
Esse
foi o contato que tive com homossexuais até os meus 18 anos.
Quando
entrei na faculdade, tive a honra de conhecer um dos melhores amigos
que tenho e que é homossexual. Através dele, conheci vários outros
(de ambos os sexos) tão incríveis quanto ele.
Assim,
com a consciência advinda dessa amizade (e com as outras
posteriormente), acabou em mim qualquer preconceito relacionado a
homossexuais. Passei a entender que eles são seres humanos
exatamente iguais a mim e que apenas desejam ser felizes tanto quanto
eu. Também entendi que os dois episódios aos quais me referi foram
“protagonizados” por pedófilos e não por homossexuais. Não que
eles não fossem homossexuais também, mas se for para “enquadrá-los”
em apenas um estereótipo, o correto é o de pedófilos (ressalto que
acredito que o ideal é evitar taxar qualquer pessoa de qualquer
coisa que seja. Mas, para fins de compreensão da mensagem que desejo
transmitir, é útil essa taxação em específico).
Com
relação aos negros, não foi diferente.
O
racismo que havia em mim era decorrente do racismo generalizado que
flui na sociedade e que é passado de geração a geração.
Cresci
sem ter contato direto ou proximidade com negros.
Na
adolescência, um dos meus maiores “rivais” da época de colégio
foi um negro. Mas esse não era o motivo da nossa desavença. Com o
passar do tempo, percebi que nos tornamos rivais pois éramos muito
parecidos e ambos externalizávamos aspectos que não gostávamos de
nós mesmos. Mas isso demorou a ser algo consciente em mim…
Após
muitos anos, já na faculdade e no trabalho, tive oportunidade de
conhecer mais negros e de criar grandes amizades com alguns deles. Da
mesma forma com relação aos homossexuais, percebi que,
independentemente da cor da pele, somos todos iguais e apenas
desejamos ser felizes.
Passei
a aplicar o mesmo raciocínio para todos os tipos de preconceito que
percebi em mim. E
essa forma de consciência tem me ajudado muito a ser um ser humano
melhor e mais tolerante e empático.
Assim,
acredito que o feriado de hoje não deve passar em brando e ser
apenas mais um dia de folga.
Acredito que devemos de fato refletir
sobre o racismo existente na nossa sociedade e vermos formas
saudáveis de lidar com situações que envolvam preconceitos, de
forma a exterminá-los primeiramente de nosso interior e
posteriormente da sociedade como um todo, bem como de forma a ensinar
as pessoas a olhar para o próximo com igualdade, compaixão e,
principalmente, empatia.
Desejo
a você muita luz, empatia consciência e reflexão, bem como um olhar sincero
para todos os seus preconceitos.