quarta-feira, 31 de julho de 2019

Sobre o amor

Por que será que é tão difícil amar?
E, mais ainda, manter-se amando a todo instante?

Acredito que a resposta a estas perguntas venha com a compreensão e vivência da maturidade.
Em regra, somos orgulhosos e combativos demais, imaturos para viver plenamente o verdadeiro amor.
Falamos vários “eu te amo” vazios, somente pró-forma, mas não conseguimos sustentar por mais de um dia completo esse tal “amor”.
Amamos enquanto nos é conveniente, bastando uma contrariedade para colocar em xeque todo o nosso “sólido e verdadeiro” amor.
Nossos egos são grandes demais para amarmos de verdade..
Temos apenas vislumbres do quão bom seria apenas alguns dias em completo amor…

Por isso a paixão é tão viciante. Ela tem parte do sentimento bom do amor, mas, quando compartilhada, não há contrariedade.
O apaixonado fica cego demais para ver os defeitos do outro. E toda sua energia é direcionada às qualidades tão reluzentes.
Mas, como tudo na vida, a paixão, por mais intensa e insana que seja, um dia passa…

Mas e o amor?

O amor é reação. É escolha.
Como todas as reações, cabe a nós escolhermos como e quando utilizá-lo.
Escolher amar é abrir mão do orgulho e da competitividade; é abandonar a violência.
Amor e violência nunca estão na mesma dimensão.

Onde há violência, não há amor.

Pode gritar o “eu te amo” mais alto que puder, mas se agir com violência, você não está amando.
E por violência, entenda qualquer violência, especialmente a verbal, que é a mais comum entre “os que se amam”.

Onde há amor, não há violência.

Acho que o melhor exemplo disso é a entrega de um cão ao seu dono.
Óbvio que um cão pode deixar de amar o seu dono e ser violento um dia, mas para que isso aconteça, tem que haver um esforço gigantesco do dono em busca disto…

O amor, então, é o abster-se de se ofender com as contrariedades que a vida traz; é atravessar o oceano sem se molhar; é ter consciência do que realmente importa.

É, com certeza isso é o amor: estado de consciência do que realmente importa.
O desafio é manter-se constantemente consciente disto e escolher amar.

Outra coisa que confunde muito é a falsa noção de que o amor que sentimos é pelo outro ou que surgiu por causa do outro.
O amor é algo imanente ao ser humano (talvez a todos os animais...ao menos aos mamíferos sim); algo que está conosco, mas que muitas vezes nem lembramos.
É certo que o outro atua muitas vezes como um catalisador, mas o amor já estava lá.

Acredito que a iluminação tão almejada por algumas culturas é simplesmente o estado de amor constante e sem destinatário específico, ou melhor, destinado a todos os seres e ao Universo.

E como fazemos para atingir este estado?

Ainda não cheguei lá, mas os poucos passos que dei nesta direção me ensinaram que a chave é aprender com cada imprevisto e trazer a consciência para os erros de forma a evitar repeti-los. É escolher amar custe o que custar. Mas isso exige planejamento e preparo.

Não tenha pressa para chegar logo ao resultado e curta o caminho;
Talvez, você consiga aprender a se amar um pouquinho mais a cada passo que dá na direção do amor verdadeiro...e talvez descubra que talvez o verdadeiro amor aos outros somente seja possível quando o seu amor-próprio for tão grande que ocupe todo o seu ser, não deixando qualquer espaço vazio para ser ocupado por qualquer tipo de violência (que, por sua vez, nada mais é do que a expressão distorcida da nossa incapacidade de real comunicação).

sábado, 27 de julho de 2019

Selvagem

Quando a angústia domina, é gerado um aperto no peito
Que estrangula ainda mais o já sufocado coração
Não me resta outra saída, a não ser repensar o caminho,
Deixar tudo para trás e seguir em outra direção

Quando a mente se perde e paro de usar a razão,
Entrego-me ao momento e esqueço de manter aquela imagem
Que demorei tanto para criar e que carrego comigo sem saber o real motivo,
Pois a verdade é que só me sinto vivo quando sou tomado pelo meu lado selvagem

Quando fecho os olhos e me jogo de cabeça no desconhecido
Quando me lambuzo e sugo cada gota do tutano da vida
Sem pensar nas consequências, sem temer o perigo
Dos instantes que verdadeiramente valem a pena de serem vividos

Mas correntes nos tornozelos me mantém aprisionado
A uma sociedade a qual eu não pertenço,
Não me adéquo; até finjo, mas realmente não me encaixo,
Pois suas regras e dogmas apenas me deixam cada vez mais tenso

São vários valores e obrigações que não fazem sentido para mim
Que devem ter sido criados por pessoas que desconhecem o prazer em viver
Pois castram a mais pura natureza que nos é latente
E tornam morna a vida daqueles que a seguem cegamente

Mas uma vida morna não é algo que me apetece
Não nasci para seguir os passos de ninguém,
Nem para ter um lugar para chamar de meu
Sou filho do vento, da velocidade e da estrada
Sou do tipo que se arrepende do que fez de errado,
Mas jamais daquilo de que ainda não viveu

Eu brindo à liberdade, aos amores errantes e aos amigos ausentes,
Pois brindar ao que já se tem simplesmente não faz sentido
Também brindo a uns tais de deuses novos e antigos
Aos quais lhe confesso que, no fundo, não acredito

A boêmia que pulsa em meu peito é quem me faz dançar
E cantar bem alto a bela música que sai daqui de dentro
Mas, às vezes, apenas o silêncio é capaz de me comportar:
É quando a poesia extravasa e dá vazão a todo este sentimento

Aliviando a angústia que envenena em doses homeopáticas
E que vai me matando aos poucos dia a dia;
Que é causa de tantas reflexões homéricas,
Que muitas vezes estragam pequenos momentos de alegria

Mas, para terminar de forma otimista este manifesto,
Convido-lhe a uma breve reflexão:
Se a dor é inevitável e o sofrimento é uma escolha,
Não é questão de escolha deixar ir todo peso que se carrega no coração?

Então pare de trair a si mesmo
E busque viver aquilo que lhe faz sentir-se inteiro
Aquilo que faria se tivesse apenas mais 6 meses de vida
Tudo o que não deixaria de experimentar antes da hora de sua partida...

terça-feira, 9 de julho de 2019

Samba da Saudade

Sinto saudade dos que não estão mais aqui
Sinto falta de seus abraços apertados
Sinto falta do que não mais terei
Daqueles que não estarão ao meu lado

Sinto saudade dos bons momentos vividos
E de tudo que pude ver
Sinto falta daqueles cujo tempo acabou
Não havendo mais o que se fazer

E também daqueles que estão distantes
Porque nossos relógios se desalinharam
Sinto falta do que não mais viverei
Dos Universos que se fecharam

Das oportunidades desperdiçadas
Dos encantos desfeitos
Das histórias desenroladas
Pelo caminhar do tempo tão imperfeito

Sinto, também, muita gratidão
Pelos que estão ao meu lado
E por tudo que pude aprender
Durante cada segundo aproveitado

Sou grato, ainda,
Pela minha tão boa memória
Repleta de muita poesia
E de muitas memoráveis e belas histórias

Por fim, agradeço ao Universo
Pela grande sorte que tenho
Pois sou tão falho como humano
E mesmo assim tão amado desde o nascimento

Também sinto gratidão
Por ter caminhado bastante
Dançado quando tive vontade
Admirado o inalcançável horizonte

Ao longo do tempo
Cruzei muitas galáxias
Desbravei os sete mares
Deitei e rolei no meio de cada estrada

Tentei e tento aproveitar
Cada segundo
Pois sei que o meu tempo é curto
Logo partirei deste belo mundo

E quando esse dia chegar
Não quero ter porquê me arrepender
Quero apenas lembrar
Que eu aproveitei bem o meu viver

Descobri e amei o samba
E me entreguei de corpo e alma à paixão
Vivenciei ao extremo cada montanha-russa
À qual me conduziu o meu coração

Também sei que vivi o bastante
Que abracei cada amigo que vi
Também sei que para alguns fui gigante
Pois, quando todas as guerras acabaram, eu sobrevivi

Mas, neste momento,
Não há mais nada a dizer
As palavras que saem das minhas mãos tem vida própria
Apenas a música flui em minha mente
Enquanto divago sem rumo
Em busca de alguma resposta

Eu sou assim
Um segundo por vez
Cada vez mais perto do fim

Mas, não há pesar
Pois aproveito cada segundo
Que o Universo me dá

Assim, sigo o meu caminho
Vou devagar, aproveitando cada encontro
No meio dos desencontros
E são tantos
E são tantos

Mas há também muitos eclipses desnorteantes
Escondidos atrás de velhos sorrisos
E daquele mesmo olhar
Que acompanha os meus passos perdidos

E que me guia no meio da escuridão
Pois se há uma luz que move este mundo
É aquela que vem de uma fonte de amor
Que faz-me sentir grato a cada segundo

Agora, para finalizar esta canção
Que transitou do rock ao samba
Uma verdadeira poesia latente do coração

Eu desejo tudo de bom para quem me escuta
Ou simplesmente lê essas palavras no meio da rua
E desejo também muita consciência, força e garra 
Para seguir bem nesta vida de muita luta 
De muita luta