segunda-feira, 30 de novembro de 2020

Silenciar, contemplar e ser

isolado de tudo
finalmente posso me reconectar
com o que há de mais essencial
com o que deixei de valorizar
o som que vem da natureza
não atrapalha o meu silêncio 
me traz para o presente
encanta-me com a sua beleza
e, parado, eu contemplo 
toda a explosão de vida ao meu redor
toda essa energia em movimento
vivendo na prática a teoria que já sei de cor
livre do fluxo de pensamentos
sinto-me leve agora
desapegado dos resultados
e de tudo que vem de fora
concectado com o que há aqui dentro

domingo, 29 de novembro de 2020

O meu caminho

paisagens lindas brindam o meu caminho
são verdadeiras pinturas divinas
elas me fazem sentir que não estou sozinho
pois me reconectam com toda essa vida
pulsa dentro de mim uma vontade de desbravar
de mergulhar no desconhecido
de caminhar mata adentro
de vagar por aí sem proteção ou abrigo
os pássaros voam livremente no céu
e de lá me vigiam
guardam-me sob o manto de suas asas
abençoando o meu caminho
as montanhas me acompanham de longe
orientando os meus passos
servindo de norte para o reencontro
do meu eu de agora com o eu que agora me desfaço
pessoas cheias de luz surgem para ensinar
como encarar a vida de uma forma mais simples
mais conectada com o natural
desapegada de todas as ilusões
extinguindo as expectativas 
que nos afastam do real
por fim, o mar
ensina-me a aceitar
tudo que não depende de mim
tudo que não posso mudar
o mar me ensina também a amar
a imprevisibilidade da vida
as surpresas da jornada
e todos eventos que não posso controlar

sábado, 28 de novembro de 2020

O mundo não me deve nada

eu sou a estrada que liga o passado ao futuro
que atravessa os momentos de dor
e também os de muito prazer
o caminho que conecta os extremos do mundo
muito mais do que se possa supor
mais do que eu possa ver 
eu sou a montanha que resiste aos mais fortes ventos
e à implacável passagem do tempo
sou a trilha que leva ao infinito
o rio que corta a floresta
um grão de areia no meio do deserto
uma gota de água dentro do oceano
sou o sorriso repleto de alegria
a sombra fresca do dia ensolarado
o mar quente nas noites mais frias
o amor que envolve um forte abraço
o mundo não me deve nada
eu é quem devo tudo
devo dar o meu melhor
e toda luz que existe aqui dentro
devo lutar por algo maior
e sempre me manter atento
para errar cada vez menos
para amar sempre um pouquinho mais
abraçando e acolhendo a minha nova versão
deixando os erros antigos cada vez mais para trás

sexta-feira, 27 de novembro de 2020

Noite quente lá fora, inverno aqui dentro

nas noites mais sombrias
quando a esperança se vai
o álcool entra rapidamente
o choro simplesmente sai
as lágrimas vêm quando têm que vir
e botam para fora tudo aquilo
que não damos conta de sentir
toda a dor acumulada
que insiste em transbordar
todos os sentimentos rejeitados
que fingimos não notar
como um raio vindo do céu
o choro flui ladeira abaixo
molhando a camisa
exorcizando as nossas vidas
limpando e purificando
os corações feridos
os caminhos partidos
e todo o futuro ainda não vivido
levando embora a esperança
de uma profunda e real conexão
colocando fim à história
de encontrar complemento
para o tão solitário coração
e assim seguimos adiante
sem certezas sobre o próximo passo
confusos e perdidos
totalmente carentes
em busca de ao menos um simples abraço

sexta-feira, 20 de novembro de 2020

Sinto muito

sinto a confiança de que tudo dará certo

sinto a certeza de que estou cada vez mais perto

sinto segurança em meus passos já dados

sinto gratidão pelos caminhos trilhados

sinto a esperança de que não precisarei mais esperar

sinto calma em cada novo respirar

sinto a curiosidade de um turista ao cruzar cada esquina

sinto a criatividade de uma criança a cada novo olhar

sinto o amor fluir em meu ser

sinto a minha humanidade florescer

sinto muita conexão com o todo

sinto que não estarei aqui de novo

sinto que posso morrer a cada instante

sinto que por isso vivo a vida como um eterno amante

sinto a liberdade de quem se jogou no abismo

sinto felicidade por estar sempre comigo

sinto que tempo não é dinheiro

é vida e preciso aproveitá-lo por inteiro

sinto que só há harmonia quando se é de fato verdadeiro

sinto que te dou um abraço com a poesia que agora escrevo

quarta-feira, 18 de novembro de 2020

Gente invisível

eles andam em silêncio sobre o asfalto

carregando os seus pertences em sacos pretos

esperando um dia também serem colocados dentro de um

quando chegar o seu momento derradeiro

eles são invisíveis, mesmo tendo cor

são excluídos e ignorados

desprezados e abandonados

por toda essa "gente de bem" cheia de amor

eles dormem ao relento

passam frio, fome, calor

mas a indiferença que sofrem a todo momento

é aquilo que lhes traz mais dor

nem ao menos objetificados eles são

pois não têm utilidade a esse sistema tão cruel

são considerados algo a ser evitado

um alimento indigesto com gosto de fel

poluem a paisagem com a sua presença

trazendo constrangimento a quem os observa

fazendo entrar em choque as suas crenças

expondo toda a sua hipocrisia

enquanto você também os despreza


domingo, 15 de novembro de 2020

Selva de pedras

selva de pedras
céu nublado
ruas e ruas
de puro asfalto
a maior das metrópoles
tu és São Paulo
um pouco de tudo
bem misturado
quantas cores há em tuas ruas?
quanto cinza no teu céu?
quantos amores perdidos?
quanta vida debaixo do véu?
trânsito intenso
cigarros estragados
pelas vidas tragadas
dos que vêm de baixo
realidades paralelas
sobre o mesmo bueiro
não importa quem é retardatário
ou quem foi que chegou primeiro
no final das contas
todos nós seremos objeto de trabalho
do mesmo coveiro
e a nossa morada também será coberta
por um manto de concreto
aí finalmente seremos iguais
estaremos bem perto
debaixo de tantos prédios
longe de tanta desigualdade
debaixo das quebradas
fundidos com o coração de pedra
desta metrópole selvagem