sexta-feira, 25 de junho de 2021

Pétalas guardadas

a cada encontro humano que experimentei
uma semente minha eu deixei
e uma pétala do outro comigo levei
guardada em uma caixa de memórias
com o tempo
conforme fui vivendo
cada pétala foi se desfazendo
e os tão belos encontros
foram aos poucos se apagando
da minha velha história
tornando-se apenas fragmentos
daqueles inspirados momentos
em que eu pulei as muralhas que me separam
de toda a vida que existe do lado fora
e novos encontros vão surgindo
revelando o meu destino
tecendo esse lindo caminho
que trilho no eterno agora
onde não lamento o que passou
nem anseio pelo que ainda não se revelou
apenas vivo-o sem demora
neste momento
neste dia
onde estou
nesta exata hora

domingo, 20 de junho de 2021

Cair da noite

há um silêncio profundo
no cair da noite
o luto da morte do dia
preenche nossos corações
uma gélida brisa nos envolve
enquanto uivos distantes
formam belas canções
a escuridão vai tomando forma
fazendo ressoar todo tipo de medo
em nossas atordoadas mentes ansiosas
amedrontadas pelo que não aconteceu
por tudo que ainda há de vir
saudosistas por aquilo que morreu
mas que não deixamos ir
todos os apegos dos quais não abrimos mão
que tornam pesadas as nossas memórias
e incerto cada novo pisar no chão
o abismo está à espreita
aguardando um pequeno vacilo
um passo fora da curva
para aplicar-nos todo o castigo
cada gota de punição
pela nossa ausência
cada amargo açoite 
pela nossa distração
perdemos o contato com realidade
e acabamos afogados em solidão
mesmo em casas repletas de gente
futuras lápides vizinhas
em um mesmo cemitério
morrendo dia a dia cada vez mais sozinhas
sem sequer saber que existe um mistério
algo que permeia
toda a existência ao nosso redor
uma força que nos habita
e nos torna um só
gotas de água do mesmo oceano
notas isoladas na mesma canção
grãos de areia do deserto infinito
o mesmo som que ressoa em cada coração

quarta-feira, 16 de junho de 2021

Criação

ela pulsa nas minhas veias
como furiosas corredeiras
descendo a montanha rumo ao abismo
ela aquece o meu peito
como o magma que toca a terra 
após a erupção
ela me conduz em viagens insólitas
por um universo desconhecido
me afastando do mundo
me unindo a tudo
ela também faz florescer
o que há de melhor em mim
todo amor e ternura
e tudo aquilo que me faz sorrir
ela me acompanha desde o começo
mas só deu as caras aos dezesseis 
quando tomou de assalto a minha vida
e em forma de poesia se fez
ela está em tudo
e a todos habita
na mão do médico que cura
no olhar apaixonado do artista
na sensibilidade do poeta
no raciocínio do enxadrista
ela possui muitos nomes
dependendo da cultura
universo, deus, mãe natureza
silêncio, pachamama, eu verdadeiro
nomeá-la é uma escolha
vivê-la é nossa obrigação
prefiro deixá-la sem nome
mas se fosse para chamá-la por um
seguiria os passos de João Nogueira
e a chamaria de Poder da Criação