no cair da noite
o luto da morte do dia
preenche nossos corações
uma gélida brisa nos envolve
enquanto uivos distantes
formam belas canções
a escuridão vai tomando forma
fazendo ressoar todo tipo de medo
em nossas atordoadas mentes ansiosas
amedrontadas pelo que não aconteceu
por tudo que ainda há de vir
saudosistas por aquilo que morreu
mas que não deixamos ir
todos os apegos dos quais não abrimos mão
que tornam pesadas as nossas memórias
e incerto cada novo pisar no chão
o abismo está à espreita
aguardando um pequeno vacilo
um passo fora da curva
para aplicar-nos todo o castigo
cada gota de punição
pela nossa ausência
cada amargo açoite
pela nossa distração
perdemos o contato com realidade
e acabamos afogados em solidão
mesmo em casas repletas de gente
futuras lápides vizinhas
em um mesmo cemitério
morrendo dia a dia cada vez mais sozinhas
sem sequer saber que existe um mistério
algo que permeia
toda a existência ao nosso redor
uma força que nos habita
e nos torna um só
gotas de água do mesmo oceano
notas isoladas na mesma canção
grãos de areia do deserto infinito
o mesmo som que ressoa em cada coração
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