Precisamos
falar de suicídio.
A
morte de Chester Bennington, vocalista do Linkin Park, trouxe à tona
mais uma vez temas como suicídio, vício em drogas, alcoolismo e
depressão.
Além
disso, detalhes sobre essa tragédia nos fazem pensar sobre outras
coisas que poucas vezes são mencionadas: o efeito dominó de um
suicídio bem-sucedido e a “liberdade de escolha” da pessoa que
tira a própria vida.
Chester
cometeu suicídio no dia em que Chris Cornell, vocalista da banda
Soundgarden e amigo próximo de Chester, faria 53 anos. Chris
suicidou-se em maio deste ano. Na ocasião, Chester ficou bastante
abalado e chegou a postar no Twitter uma mensagem na qual, entre
outras coisas, dizia que não conseguia imaginar um mundo sem o
amigo.
Agora,
dois meses depois, exatamente no dia do aniversário do Chris,
Chester também cometeu suicídio e da mesma forma que o amigo,
provocando seu próprio enforcamento.
Esse
é o efeito dominó ao qual me referi.
Todo
“suicídio bem-sucedido” tem o grande poder de influenciar outras
pessoas predispostas a também cometerem suicídio. Isso ocorre
porque a “forma eficiente” que pela qual o suicídio é realizado
acaba por mostrar e ensinar como o mesmo deve ser feito.
Talvez
isso pareça besteira para quem nunca cogitou tal ato, eis que uma
pesquisa rápida na internet pode apresentar várias formas eficazes
de se matar, mas, para as pessoas predispostas a cometerem suicídio,
uma história atual de suicídio, ainda mais cometido por alguém
próximo, tende a influenciá-las e a fazerem-nas refletir bastante
sobre essa possibilidade (que talvez estivesse adormecida por um bom
tempo).
Dessa
forma, considerando que muitos jovens adolescentes e adultos
cresceram ouvindo Linkin Park e, consequentemente, criaram alguma
espécie de afeto para com os membros dessa banda, existe a real
possibilidade dessa tragédia acabar por influenciar outras pessoas a
seguirem o mesmo caminho.
Precisamos
ficar atentos a isso.
Outro
ponto importante relacionado à relação das mortes do Chester e do
Chris é o fato de, pouco tempo após a morte de um dos amigos, o
outro tirar a própria vida. Esse ponto específico me fez lembrar da
relação entre Chorão e Champignon. Os músicos morreram em 2013.
Chorão foi vítima de uma overdose em março e Champignon
suicidou-se em agosto.
Tenho
pouco conhecimento sobre as relações de amizade deles, mas
parece-me que em ambos os casos houve uma relação de dependência
entre um amigo e outro, nas quais perder um amigo de forma trágica
(suicídio no caso do Chris Cornell e overdose no caso do Chorão)
foi um gatilho forte o suficiente para, semanas depois dessa perda –
e, com certeza, milhões de pensamentos relacionados a isso -, fazer
a história do amigo sobrevivente até então cominar em outro fim
trágico (suicídio em ambos os casos).
Precisamos
refletir sobre as nossas relações interpessoais e avaliar o nosso
grau de dependência para com as pessoas próximas.
Quanto
ao segundo ponto que decidi abordar nesse texto, a “liberdade de
escolha” da pessoa que comete suicídio, acho que é muito
importante refletirmos sobre o que é de fato essa “escolha”.
Antigamente,
eu acreditava que quem “decidia” tirar a própria vida de fato
tomava uma escolha e que, caso o suicídio de fato ocorresse, a
escolha da pessoa deveria ser respeitada como tal. Sabe, eu tinha
aquele pensamento de “tudo bem, pelo menos foi da forma que ele(a)
escolheu”.
Hoje,
vejo que essa “escolha” não é uma escolha 100% livre, visto que
é altamente distorcida em decorrência de vários fatores como
doenças de ordem física e/ou psicológica, influência externa,
inabilidade para lidar com as adversidades da vida, desesperança,
problemas hormonais, transtorno pós-traumático desenvolvido após
uma experiência extrema, estresse, sentimento de desconexão, entre
outros motivos.
Muitas
de nossas escolhas são feitas de forma não tão consciente como
deveriam ser feitas. Isso falando de pessoas “saudáveis” (coloco
entre aspas porque a maioria das pessoas tem alguma espécie de
doença, mas ainda não foi diagnosticada), dentro da média. Quando
falamos de pessoas com predisposição ao suicídio, seja por
depressão ou por qualquer outro motivo, as escolhas possuem um grau
mais elevado de distorção.
Muitas
vezes, a ideia “de que adianta viver se no final vou morrer de
qualquer forma?” acaba se enraizando até se tornar uma crença. E,
quando essa crença cresce e se fortalece, ela passa a reger boa
parte das escolhas da pessoa.
Por
vezes, ainda mais quando influenciados por crenças limitantes ou
pela falta de esperança, acabamos nos esquecendo de que a vida é
uma experiência similar à relação entre o dia e a noite: nela
temos momentos de luz e momentos de escuridão; de elevada energia e
de baixa energia; de alegria e sofrimento; de felicidade e de dor; e
que, por mais forte que seja o aperto no peito, uma hora ele vai
passar e voltaremos ao estágio em que sorrir é algo fácil e
agradável.
Dessa
forma, considerando que o suicídio é, em regra, cometido após um
bom tempo de introspecção e reflexão, verifico como de suma
importância estarmos mais atentos às pessoas próximas, eis que nem
o mais forte dos homens está imune a passar por momentos de
desconexão e a adquirir doenças ou crenças que tornem turva a sua
capacidade de escolha.
O
suicídio não pode ser remediado, apenas evitado. E, quando se trata
desse assunto, não há espaço para culpa ou remorso: a energia deve
ser utilizada para evitar novos casos.
Por
fim, quero convidar a você (especialmente se também for do sexo
masculino) a falar sobre os seus sentimentos com alguém, de
preferência com um profissional (psicólogo, terapeuta, psiquiatra).
Permita-se viver a experiência de abrir o livro da sua vida com
alguém e dê a chance ao mundo de ajudá-lo.
Todos
carregamos dores, mas nem todos estamos prontos para fazer isso o
tempo todo. Às vezes uma ajuda na hora certa pode ser providencial
para evitar novas tragédias.
Desejo-lhe
muita luz, força, positividade e humildade para pedir ajuda quando a
vida se tornar pesada demais.
Segue
abaixo um trecho de “Somewhere
I Belong”, a
minha música
preferida do Linkin Park, que descreve bem o sentimento de todos que
já se sentiram desconectados com o mundo que nos cerca:
“I
wanna heal, I wanna feel
Like
I'm close to something real
I
want to find something I've wanted all along
Somewhere
I belong”
(Eu
quero me curar, eu quero sentir
Como
se estivesse perto de algo real
Eu
quero encontrar algo que sempre quis:
Um
lugar ao qual eu pertença)
Chester, que a sua passagem seja repleta de luz.