sábado, 22 de julho de 2017

Suicídio.

Precisamos falar de suicídio.

A morte de Chester Bennington, vocalista do Linkin Park, trouxe à tona mais uma vez temas como suicídio, vício em drogas, alcoolismo e depressão.

Além disso, detalhes sobre essa tragédia nos fazem pensar sobre outras coisas que poucas vezes são mencionadas: o efeito dominó de um suicídio bem-sucedido e a “liberdade de escolha” da pessoa que tira a própria vida.

Chester cometeu suicídio no dia em que Chris Cornell, vocalista da banda Soundgarden e amigo próximo de Chester, faria 53 anos. Chris suicidou-se em maio deste ano. Na ocasião, Chester ficou bastante abalado e chegou a postar no Twitter uma mensagem na qual, entre outras coisas, dizia que não conseguia imaginar um mundo sem o amigo.

Agora, dois meses depois, exatamente no dia do aniversário do Chris, Chester também cometeu suicídio e da mesma forma que o amigo, provocando seu próprio enforcamento.

Esse é o efeito dominó ao qual me referi.

Todo “suicídio bem-sucedido” tem o grande poder de influenciar outras pessoas predispostas a também cometerem suicídio. Isso ocorre porque a “forma eficiente” que pela qual o suicídio é realizado acaba por mostrar e ensinar como o mesmo deve ser feito.

Talvez isso pareça besteira para quem nunca cogitou tal ato, eis que uma pesquisa rápida na internet pode apresentar várias formas eficazes de se matar, mas, para as pessoas predispostas a cometerem suicídio, uma história atual de suicídio, ainda mais cometido por alguém próximo, tende a influenciá-las e a fazerem-nas refletir bastante sobre essa possibilidade (que talvez estivesse adormecida por um bom tempo).

Dessa forma, considerando que muitos jovens adolescentes e adultos cresceram ouvindo Linkin Park e, consequentemente, criaram alguma espécie de afeto para com os membros dessa banda, existe a real possibilidade dessa tragédia acabar por influenciar outras pessoas a seguirem o mesmo caminho.

Precisamos ficar atentos a isso.

Outro ponto importante relacionado à relação das mortes do Chester e do Chris é o fato de, pouco tempo após a morte de um dos amigos, o outro tirar a própria vida. Esse ponto específico me fez lembrar da relação entre Chorão e Champignon. Os músicos morreram em 2013. Chorão foi vítima de uma overdose em março e Champignon suicidou-se em agosto.

Tenho pouco conhecimento sobre as relações de amizade deles, mas parece-me que em ambos os casos houve uma relação de dependência entre um amigo e outro, nas quais perder um amigo de forma trágica (suicídio no caso do Chris Cornell e overdose no caso do Chorão) foi um gatilho forte o suficiente para, semanas depois dessa perda – e, com certeza, milhões de pensamentos relacionados a isso -, fazer a história do amigo sobrevivente até então cominar em outro fim trágico (suicídio em ambos os casos).

Precisamos refletir sobre as nossas relações interpessoais e avaliar o nosso grau de dependência para com as pessoas próximas.

Quanto ao segundo ponto que decidi abordar nesse texto, a “liberdade de escolha” da pessoa que comete suicídio, acho que é muito importante refletirmos sobre o que é de fato essa “escolha”.

Antigamente, eu acreditava que quem “decidia” tirar a própria vida de fato tomava uma escolha e que, caso o suicídio de fato ocorresse, a escolha da pessoa deveria ser respeitada como tal. Sabe, eu tinha aquele pensamento de “tudo bem, pelo menos foi da forma que ele(a) escolheu”.

Hoje, vejo que essa “escolha” não é uma escolha 100% livre, visto que é altamente distorcida em decorrência de vários fatores como doenças de ordem física e/ou psicológica, influência externa, inabilidade para lidar com as adversidades da vida, desesperança, problemas hormonais, transtorno pós-traumático desenvolvido após uma experiência extrema, estresse, sentimento de desconexão, entre outros motivos.

Muitas de nossas escolhas são feitas de forma não tão consciente como deveriam ser feitas. Isso falando de pessoas “saudáveis” (coloco entre aspas porque a maioria das pessoas tem alguma espécie de doença, mas ainda não foi diagnosticada), dentro da média. Quando falamos de pessoas com predisposição ao suicídio, seja por depressão ou por qualquer outro motivo, as escolhas possuem um grau mais elevado de distorção.

Muitas vezes, a ideia “de que adianta viver se no final vou morrer de qualquer forma?” acaba se enraizando até se tornar uma crença. E, quando essa crença cresce e se fortalece, ela passa a reger boa parte das escolhas da pessoa.

Por vezes, ainda mais quando influenciados por crenças limitantes ou pela falta de esperança, acabamos nos esquecendo de que a vida é uma experiência similar à relação entre o dia e a noite: nela temos momentos de luz e momentos de escuridão; de elevada energia e de baixa energia; de alegria e sofrimento; de felicidade e de dor; e que, por mais forte que seja o aperto no peito, uma hora ele vai passar e voltaremos ao estágio em que sorrir é algo fácil e agradável.

Dessa forma, considerando que o suicídio é, em regra, cometido após um bom tempo de introspecção e reflexão, verifico como de suma importância estarmos mais atentos às pessoas próximas, eis que nem o mais forte dos homens está imune a passar por momentos de desconexão e a adquirir doenças ou crenças que tornem turva a sua capacidade de escolha.

O suicídio não pode ser remediado, apenas evitado. E, quando se trata desse assunto, não há espaço para culpa ou remorso: a energia deve ser utilizada para evitar novos casos.

Por fim, quero convidar a você (especialmente se também for do sexo masculino) a falar sobre os seus sentimentos com alguém, de preferência com um profissional (psicólogo, terapeuta, psiquiatra). Permita-se viver a experiência de abrir o livro da sua vida com alguém e dê a chance ao mundo de ajudá-lo.

Todos carregamos dores, mas nem todos estamos prontos para fazer isso o tempo todo. Às vezes uma ajuda na hora certa pode ser providencial para evitar novas tragédias.

Desejo-lhe muita luz, força, positividade e humildade para pedir ajuda quando a vida se tornar pesada demais.


Segue abaixo um trecho de “Somewhere I Belong”, a minha música preferida do Linkin Park, que descreve bem o sentimento de todos que já se sentiram desconectados com o mundo que nos cerca:

I wanna heal, I wanna feel
Like I'm close to something real
I want to find something I've wanted all along
Somewhere I belong”

(Eu quero me curar, eu quero sentir
Como se estivesse perto de algo real
Eu quero encontrar algo que sempre quis: 
Um lugar ao qual eu pertença)

 
Chester, que a sua passagem seja repleta de luz.

terça-feira, 18 de julho de 2017

Vale das sombras

Quando você percebe que o medo está por trás de grande parte das suas escolhas, escolher de forma rápida pode ser uma grande chance para se arrepender.
Olhar para dentro é algo simples. Continuar olhando exige coragem.
O vale das sombras da morte só pode ser visto quando a luz da consciência é jogada sobre a sua vida.
O que antes passava desapercebido agora é a causa de muito zumbido.
A mente, antes, distraída, está agitada e reflexiva.
Como um espelho trincado, reflete de forma distorcida tudo que à sua frente passa.
Como um trem desgovernado, as emoções invadem a cabeça e destroçam os pensamentos.
O sono acumulado também faz seu estrago.
As olheiras denunciam que o seu limite está próximo.
O peso sobre os ombros também.
A dor da perda do que ainda se tem só não é pior do que o luto da morte porque ainda há uma sádica esperança que lhe nutri enquanto suga-lhe todo o restinho de energia que sobrou.
O pessimismo surge quando todos os caminhos lhe levam ao mesmo precipício.
Mas, no fundo, você sabe que você é o(a) único(a) responsável pelo seu caminho e que caminhos pré-definidos ou destino são coisas de mitologia antiga.
A sua vida apenas a você pertence.
Você é responsável pela sua miséria e por sua redenção.
Ninguém além de você mesmo(a) é culpado pelo seu sofrimento, nem é responsável pela sua felicidade.
Faça o que tem que ser feito.
Nesse momento, cerro meus olhos e olho firmemente para o ponto mais obscuro do meu ser.
Me entregar não é uma escolha.
Lutarei até o fim.
Ou até um bom recomeço.
O relógio exige que eu parta e parta meu texto pela metade, deixando no além todo o resto que ainda viria.
Assim, só resta-me partir para mais uma noite incerta.
A única certeza que me resta é que algo acontecerá e eu serei o responsável por isso.
O meu barco já está no mar e agora irei recolher a minha âncora.

quinta-feira, 13 de julho de 2017

Verdades e segredos

Após dias sem escrever,
Resolvi tentar algo diferente
Já que nenhuma inspiração específica surgiu
Decidi forçar-me a escrever o que vier à mente


Passo por uma fase turbulenta, onde muitas certezas deixaram de existir.
A dúvida tomou conta e fez estremecer todas as estruturas, que, de tanto balançarem, se racharam.
Das rachaduras surgiram buracos que todos os dias tento em vão preencher.
Cada dia é desperdiçado tentando resolver o estrago do dia anterior.
Se esse discurso lhe causa preocupação, fique tranquilo, apesar de tudo estou bem.
A falta de problemas reais talvez seja a causa de tantos problemas ideológicos.
O meu vício em pensar e questionar me fez cair em muitas armadilhas criadas por mim mesmo.
Nenhuma regra é 100% absoluta e eu sou um transgressor por natureza.
A minha alma revolucionária esperneia cada vez que me submeto a mandamentos aos quais discordo.
E com isso o coração sofre.
Ouvir verdades sobre mim também não é o meu forte. Mas de quem é?
As verdades inconvenientes que ainda não sou capaz de mudar me machucam quando são expostas.
Creio que isso acontece com todos, por isso usamos tantas máscaras diariamente.
Todos os dias tento tirar algumas das minhas mil máscaras, mas o resultado é sempre o mesmo: dor e sofrimento para quem está perto.
Quanto mais perto, pior o dano.
E nisso o coração sofre.
A angústia toma conta daqueles que almejam segurança.
Como ter segurança nessa vida onde a única coisa que de fato é permanente é a impermanência da vida?
Como suprir a carência do outro quando as minhas próprias carências estão tão fortes e longe de serem preenchidas?
Aliás, é possível preencher uma carência?
Ou será que a carência tem a mesma natureza que a luxúria (quanto mais você a alimenta, mais ela se fortalece e cresce dentro de ti)?
Como eu disse, muitas dúvidas passaram a me acompanhar.
Meus sonhos se misturaram com as expectativas do mundo e eu já não sei nem mais o que de fato é sonho meu ou não.
O álcool é a droga que elegi para me acompanhar em dias libertadores como hoje.
Pensamentos vêm e eu os escrevo.
Essa é a ideia desse texto.
Não questione, apenas saboreie.
Saboreie a experiência do imprevisível.
E se a vida é impermanente, esse texto é regado de vida.
Nem eu mesmo sei o que vai vir a seguir, apenas escrevo o que vier na cabeça.
O que espero?
Talvez captar alguma mensagem do Universo.
Alguma luz no meio do túnel porque o fim está muito distante (eu acho).
O que espero do amanhã?
Viver de forma plena, leve e feliz, deixando para trás todos os pesos do meu passado errante.
O que pretendo fazer para efetivar isso?
Silenciar essa mente tão barulhenta e dar uma chance pro coração falar.
Faz tempo que não o escuto, por isso tanto barulho..
Tanta distração.
Tantos caminhos contraditórios.
Tantas distorções.
Espero não esperar nada e apenas apreciar o que vier da vida.
Já não sei se acredito em destino ou em sorte.
Também não sei quanto tempo tenho antes da morte,
Mas espero me lembrar de aproveitar bem todo esse tempo
Sem perder tempo com coisas sem valor;
Sem desperdiçar a minha vida tentando algo que de fato não quero;
Sem também desistir quando estiver chegando bem perto.
Nesse momento, os dedos não estão tão dormentes, mas a mente continua viajando.
E nessa viagem em direção ao fundo da minha alma
Busco atingir um alvo.
A resposta da dúvida que sempre me aflige:
Que direção seguir?
Quero tudo sem abrir mão de nada.
Quem não quer isso?
Se tem alguém que não queira, por quê?
Não faz sentido.
Pelo menos não para mim.
Na verdade, o que desse texto faz sentido?
Acabo de reler a metade dele e vi que transitei por tantos cantos que nem mesmo um cão farejador é capaz de seguir os meus passos.
Eu ando, penso, falo.
Me perco, calo e me acho.
Agora, o sono bate à porta, mas não irei me render.
Já cumpri a minha meta que era escrever um texto e ainda ganhei de brinde a autenticidade do mesmo.
Muitas verdades sobre mim nas linhas acima.
Muitos segredos meus nas linhas abaixo.