domingo, 16 de fevereiro de 2020

Âmbar

Como um pirata apaixonado
Mergulho de cabeça no oceano
Encantado com o belo som da tua voz
Sigo o teu nado de sereia

O teu sorriso tão de perto ficará gravado
No âmbar dos meus olhos flamejantes
Um breve registro fossilizado
Da calmaria após momentos tão picantes

Estávamos super inspirados
Em uma conexão sem precedentes
Corpos e mentes entrelaçados
Em movimentos naturalmente envolventes

Sutilmente você me flagrou
Enquanto contemplava a tua infinita beleza
Um silêncio eloquente foi o que restou
Dos olhares cruzados sem sutileza

E a tempestade fez balançar o navio
Desorganizando todo o ambiente
Ondas gigantes atravessadas
Por uma tripulação forte e valente

Por fim, o melhor momento
Um infindável e aconchegante abraço apertado
Preenchendo todo o território compartilhado
Regado de pequenos e íntimos beijos
Dos quais se destaca o de esquimó que surgiu ali no meio

Um dia ou um milhão não faz diferença
Desde que estejamos tão livres assim
Sem passado nem futuro, cercas ou muros
Somente conscientes do que ocorre aqui

Isolados em um quarto, vencemos o mundo
E todos os rótulos que aprisionam os demais
Derrubamos barreiras, erguemos a nossa bandeira
E lutamos para que seja perene essa imensa e entorpecente paz

O que será do amanhã não sabemos
Mas de uma coisa podemos ter certeza
Mesmo que o destino um dia nos separe
Nada apagará o que juntos vivemos

Todas as vezes que nos reencontrarmos
Nossas almas clamarão por uma nova união
Por mais momentos de dança sem música
Deitados e pelados em profunda conexão

Agora já é hora de dormir
Tudo o que não dormimos enquanto estávamos juntos
Pois decidimos dar prioridade
À bela obra de arte que criamos

Feche os teus olhos e descanse
Pois não estou mais te encarando
Sigo há quilômetros e quilômetros distante
Enquanto o âmbar continua te (a)guardando

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

Minha vida, minhas lentes

O som que sai do meu coração
Atravessa enormes distâncias até chegar a você
E junto com ele vai essa canção
Que escrevo agora, ao anoitecer

Tudo que é superficial
Não resiste ao real
E cai como a máscara abandonada
Quando a festa chega ao final

Há várias formas de beleza
E elas variam conforme os olhos de seus espectadores
Por mais que o belo exterior seja contemplável com a visão
A beleza mais profunda só pode ser sentida com o coração

E neste momento da minha vida
Meu coração está aberto ao amor
Às belezas antes não percebidas
Às forças que cansei de me opor

Fui camaleão, fui serpente, fui leão
Também voei um pouco por aí
Mas decidi regressar ao ninho que me acolheu
À vida que me conduz ao apogeu

O que antes era uma prisão
Passou a ser um belo museu
Repleto de histórias antigas
Trechos e mais trechos desta breve vida
Que presencio a cada dia

Ao escolher as lentes que uso
Passo a dominar o meu mundo
E todas as feras interiores
Ao abandonar a complexidade
E deixar de lado a vaidade
Vivo finalmente sem grandes temores

Assim, findas as inúmeras tempestades
Quando o dilúvio começa a secar
As terras aos poucos reaparecem
E novas flores começam a brotar

A arte ressurgiu
Como um belo amanhecer
De tantas formas possíveis
Brindando este singelo ser

Sentimentos indomáveis
Passaram então a ser aceitos
Enquanto foram aos poucos destruídos
Todos os ex-planos perfeitos

A perfeição foi deixada de lado
Neste novo amanhecer
Quando vi o amor-fênix ser destronado
E dar lugar ao melhor sentimento que poderia haver:

A liberdade de ser feliz mesmo sem se ter tudo que quis
A liberdade de fazer o que se quer
A liberdade de querer o que se faz
A liberdade de escolher viver em paz

sábado, 1 de fevereiro de 2020

Esfinge indecifrável

Hoje você veio me visitar
Nem deu tempo de sentir saudade
Passou tanto tempo da última vez
Esperava que seu regresso demorasse um pouco mais
Pelo menos, no mínimo, mais de um mês

Não tenho nada contra você
Até porque costuma ser uma grande musa para mim
Inspira-me tanto quanto aprisiona
Sinto-me sufocado enquanto você serve ao seu fim

Hoje à tarde voltei a tocar baixo
Você este presente em todas as notas
Trouxe contigo belos acordes
E um forte aperto no meu peito

As pessoas te confundem com a sua irmã mais nova
Apesar de não a conhecer pessoalmente,
Acho impossível confundi-la com você
Você é dominadora, mas permite ser usada
Ela, até onde sei, só fica enquanto está intocada

Já tentei te entender e até mesmo aceitar
Mas és esfinge indecifrável
Um navio naufragável
Que anseia o fundo do mar

E nessa tua busca pelo que há de mais pesado
É pesado demais para mim estar aqui ao teu lado
Pois, mesmo sem querer, acabo sendo arrastado
E, mais uma vez, como sempre, sinto-me sufocado

Sinto-me tão bem na tua ausência
Fico repleto de uma livre leveza
Porém sou tão acostumado com a tua presença
Que aprendi a lidar com esse teu ar de realeza

Assim, mesmo sabendo que sem você sou mais feliz
Não fujo e fico aqui à tua mercê
Iludido pela tua imensa beleza
Oh, minha querida e inspiradora tristeza.