segunda-feira, 27 de julho de 2020

Pituca

Oh, Pituca, minha princesa
querida criança
com o teu nome em minha mente
já batizei até restaurante
mas a verdade é que o mais importante
é estar na tua presença
você é o meu amor maior
a melhor companhia
comigo tão parecida
mesmo com tanta diferença
dois seres evolutivamente distantes
mas com almas gêmeas
duas feras selvagens
duas belas fêmeas
o sagrado feminino nos permeia
mesmo que não tenhamos consciência
o amor é a fragrância que nos rodeia
em sintonia com toda a existência
mon petit chaton
maman t'aime
todo o meu coração
pertence a você

domingo, 26 de julho de 2020

vulnerável

notícias que não busco
chegam até mim como flechas
que atravessam o meu peito
e acertam em cheio o meu coração
estou vulnerável, indefeso
sem escudo ou proteção
pois tirei a minha armadura
e tudo o que mais me impedia de sentir
agora sinto todas as dores
das quais eu sempre fugi
sei que a verdade dos fatos
é que tudo isso é apenas a minha interpretação
mas esta imensa dor é tão real
que não parece ser fruto da imaginação
dói demais a solidão
e a incerteza do próximo passo
quando se perde o seu próprio chão
a base que te sustenta
o néctar que alimenta
a energia que aquecia o meu coração
agora tudo está tão vazio
nada mais faz sentido
aqui dentro um gélido sentimento frio
fez de mim o seu abrigo
e tornou-se a minha prisão
sem saída, sem possibilidade de fuga
sem chance de luta
pois me acompanha onde quer que eu vá
em qualquer direção
como uma sombra 
segue os meus passos
e me reencontra a cada esquina
como um carrasco
prende e tortura a minha alegria
e, no final, a assassina
não deixando vestígios
ou qualquer esperança
de que um dia reencontre a paz perdida
ou adquira um pouco de temperança

a minha alegria foi cancelada

toda alegria que sentia
de mim foi tirada
simplesmente assim, do nada
ela foi cancelada
o sol é única redenção
pois ele continua lá no mesmo lugar
emanando energia e força
sem jamais deixar de brilhar
a água que cai do chuveiro
é o único abraço que recebo
é a minha caverna silenciosa
fonte de acalento e aconchego
mas nem a água e nem o sol
têm sido capazes de me fazer sorrir
por mais que ainda me façam bem
não me levam para longe daqui
para longe desta imensa dor
para onde haja amor
para quando alegre eu for
para a tela onde a paisagem cinza retoma a sua cor
clamo aos céus: devolvam a minha alegria
ouço como resposta: ela está aí e independe de companhia
aceite a sua solidão
transforme-a em solitude
encontre e seja a sua melhor versão
e faça da alegria a sua única atitude

sábado, 25 de julho de 2020

apenas mais um alguém

sentimentos estranhos me roubam de mim
me arrastam pelo campo
para longe do meu caminho
e sigo sozinho
dentro da minha caverna
lidando com os meus demônios
buscando o próprio amor
ou algo que retire esse dor
um sorriso esquecido
um abraço não dado
que acalente a alma
e libere esse coração apertado
fazendo-o voar pelos céus
para longe daqui
para além do passado
ou do futuro idealizado
para dentro do presente
que nasce e morre a cada momento
onde não há noção de tempo
nem espaço para pensamentos
onde a vida de fato ocorre
onde os olhos não param de brilhar
onde a entrega é eterna
e dura o que tem que durar
onde eu posso soltar a sua mão
sem medo de cair
sem perder o meu chão
nem os motivos para sorrir
onde eu possa ser quem sou
sem causar mal a ninguém
após juntar o que restou
quando me tornei apenas mais um alguém

dias nublados, noites sombrias

há dias nublados que demoram a passar
nos encolhemos no chão do banheiro
tentando preencher o vazio no peito
mas nada parece adiantar
há também dias ensolarados
que nos fazem expandir
nos dão disposição e energia
e fazem renascer até a vontade de sorrir
há ainda noites longas e solitárias
onde nossos fantasmas vêm nos visitar
reencontramos o passado que queremos esquecer
tudo aquilo que foi e não voltará
a única esperança existente nessas noites sombrias
é que o dia seguinte seja ensolarado
que o sol dissipe quaisquer pensamentos nublados
e que a felicidade ressurja em nossas vidas

segunda-feira, 6 de julho de 2020

A travessia

eu sempre tive medo de morrer afogado
talvez por isso não me seja fácil atravessar o rio
por mais que saiba que é algo necessário
sinto um imenso e paralisante calafrio
bate um desespero no meio da travessia
não há chão e ambas as margens parecem impossíveis de se chegar
nadar para frente é desespero e para trás é agonia
e a correnteza está bem mais forte do que eu poderia imaginar
assim, afundo bem fundo
até que me falta ar
e não há ninguém aqui junto
para poder me salvar
só me resta então pegar impulso
e com todas as minhas forças lutar para boiar
pois a minha intuição me diz que para vencer o rio
tenho apenas que deixá-lo me levar