-
Mestre, estou apaixonado. A minha musa é uma menina linda. Ela tem
um olhar encantador; sua voz é doce como a de uma sereia; ela tem o
sorriso mais radiante deste mundo; e seus belos cabelos parecem raios
de Sol. Ela invadiu a minha mente e o meu coração. O que faço
agora?
-
Aproveita ao máximo, mas não se deixe cegar pela paixão!
-
Como assim, Mestre?
- A
paixão é uma coisa boa, mas também pode ser a ruína do homem. Ela
pode ser a melhor coisa que acontece a alguém ou a sua maior
desgraça. Ela motiva o homem a fazer coisas grandiosas. Ela o motiva
a levantar da cama e a atravessar um reino inteiro em busca de sua
paixão. Ela o motiva a matar quantos leões e inimigos forem
necessários para isso. Ela o motiva a ser criativo e audacioso. Mas
ela também pode cegá-lo e fazê-lo cometer erros graves. Ela pode
estimulá-lo a dar início a guerras desnecessárias, bem como a
falar demais e a falhar em tantos níveis quantos forem imagináveis.
A paixão deixa o homem corajoso e imprudente. Faz com que ele se
sinta imbatível, impunível e imortal… ao mesmo tempo que faz com
que ele seja irresponsável, insensato e estúpido.
-
Mestre, você já se apaixonou alguma vez?
-
Claro que sim! Eu sou homem, filho de Eros, descendente de Afrodite.
Já me apaixonei várias vezes e cometi erros em todas elas, até que
certa vez aprendi a me apaixonar sem perder a razão.
- Me
diga então, Mestre, como você fez para não cometer mais erros nas
suas paixões?
- Eu
me apaixonei sempre que pude e vivi cada paixão ao máximo. Mas
percebi que a paixão passa. Não importa quão boa e perfeita ela
seja, ela passará. Sendo assim, algo passageiro, não há porque
permitir que ela lhe domine e lhe exponha a equívocos.
-
Mestre, quer dizer que a minha paixão também passará?
-
Sim, com toda certeza. Mas você ainda poderá se reapaixonar pela
sua musa quantas vezes for necessário. A paixão tem começo, meio e
fim, mas, como uma fênix, ela pode ressurgir cada vez que você
quiser. Você não controla quando ela surge pela primeira vez, mas
você pode alimentá-la quando ela estiver desaparecendo, fornecendo
energia suficiente para que ela ressurja sempre que desejar.
-
Então é possível se apaixonar mais de uma vez pela mesma pessoa?
-
Claro que sim. Você pode se apaixonar e reapaixonar quantas vezes
estiver disposto. E cada paixão é única e intensa como deve ser,
mesmo que seja pela mesma pessoa pela qual você já se apaixonou mais de 300
vezes.
-
Existe alguma forma para que eu não cometa erros, mesmo sendo a
minha primeira paixão?
-
Sim. Mas somente você será capaz de descobrir a sua forma. O
conselho que dou é: mantenha sua mente sempre mais rápida que a sua boca. Não prometa o que não pode cumprir. Não dê a sua palavra
motivado por uma paixão. Nada vale mais nesse mundo do que a palavra
de um homem, então não se comprometa a algo sem refletir bastante
antes. Se a sua paixão cegá-lo (e ela vai fazer isso), fique com os
seus ouvidos atentos, com a sua boca fechada e com a mantenha-se
consciente a todo momento. Quando a cegueira passar, observa o mundo
ao seu redor com cuidado antes de dar o próximo passo. Ande com
cautela e não cometa erros que afastem a sua musa. Preserve-a acima
de tudo, principalmente se ela também estiver apaixonada por você.
- E
se ela não estiver apaixonada por mim?
-
Preserve-a do mesmo jeito. A diferença é que se ela não estiver
apaixonada por você e você cometer algum erro, provavelmente, ela
não ligará e entenderá que você errou porque estava apaixonado.
Caso ela também esteja apaixonada, há grande chande dela também
estar cega, como você. Estando apaixonada, ela o colocará num
pedestal e o enxergará como algo próximo à perfeição que ela
deseja. Assim, se falhar com ela, você a decepcionará não pelo seu
erro, mas sim pela desconstrução dessa imagem. E isso poderá ser a
sua ruína. Portanto, pequeno gafanhoto, aproveite a sua paixão ao
máximo, mas preste atenção nos seus movimentos para que não
cometa erros. Boa sorte!
"Obrigado, Mestre!" - disse o discípulo, antes de ir ao encontro de sua musa e decepcioná-la algumas vezes.
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